segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Como amar o inimigo sem ser hipócrita?


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Alguém já perguntou: "Como eu posso amar o inimigo? Se amá-lo, vou ser descaradamente falso". 
Esse dilema surge porque temos idéias estranhas sobre o amor.

Primeiro temos que pensar sobre os vários significados da palavra amor. Diferentemente da língua portuguesa, o grego apresenta pelo menos 3 palavras para o amor: Phileo é o amor da amizade. Eros é o apaixonado amor entre homem e mulher. E o amor Ágape é o amor divino, resistente, eterno. Phileo e Eros são sentimentos conquistados por merecimento; já o ágape é decisão de amar imerecidamente sem trocas ou reciprocidade. Jesus nos ordenou a exercitar o amor ágape nos relacionamentos (Jo 13:34). Podemos destacar aqui a lição de que devemos amar uns aos outros com o mesmo modelo, padrão e exemplo do amor de Jesus. Assim, devemos olhar para Jesus e saber como ele amou aos outros. Olhando para a vida de Jesus podemos aprender pelo menos 3 lições sobre o significado do amor em nossos relacionamentos:

1. O amor ágape é muito mais do que gostar de alguém. 
Amar é diferente de gostar. Devemos amar todo mundo. Isso não significa que devemos gostar de todo mundo. Nós gostamos de algumas pessoas e não gostamos de outras. Mas devemos amar todas as pessoas, inclusive aquelas de quem não gostamos. Você não precisa gostar para amar. Deve inclusive amar sem gostar. Jesus não gostava de seus inimigos religiosos e políticos, porém, amou todos eles. Isso significa que amar não é gostar do inimigo ou ter afinidade com ele. Isso implica que amar não impede de denunciar a injustiça, protestar contra a maldade, reinvidicar os direitos humanos nem disciplinar quem erra. Vemos que Jesus não demonstrou seu amor fazendo serenatas de saudades para os religiosos fariseus, nem escreveu cartas de amor para os ladrões do templo, nem fez homenagens para Herodes. Mas Jesus amou todos eles, inclusive, ao ponto de denunciar o pecado deles e dar sua própria vida para salvá-los. Enfim, Jesus amou seus inimigos, mas não gostou deles, não aprovou seus erros nem se alegrou com as injustiças deles (I Co 13:6).

2. O amor ágape ultrapassa a convivência íntima. 
Amar não é necessariamente conviver intimamente com todas as pessoas em todo o tempo e transformar sua casa na “casa da mãe joana”. Aprendemos nos evangelhos que o amor de Jesus respeitava fronteiras e limites de convivência. Jesus vivia distante de seus inimigos religiosos e políticos, era mais formal com a multidão, porém mais próximo dos 70, mais chegado dos 12, mais ligado a 3 (Pedro, Tiago e João) e mais íntimo de um (João – quem encostou a cabeça sobre os ombros de Jesus). Isso significa que não é necessário conviver intimamente com certas pessoas para amá-las. Acredito que existem relacionamentos que devem promover amor numa convivência à distância. Não vemos Jesus comendo pizza com os fariseus, nem indo ao shopping com herodes, nem passeando na praça com os soldados romanos; pelo contrário, Jesus fugia deles. Isso nos diz que Jesus convivia separado de seus inimigos; porém os amou mesmo a distância, a tal ponto de dar a sua vida para realizar a reconciliação pelo seu sacrifício na cruz. Assim, Jesus mandou amar os inimigos e não ter intimidade com eles. Fuja dos inimigos que vos perseguem, porém os ame de longe.

3. O amor ágape é incondicionado a roupa social, cultural e religiosa.
 
O olhar de Jesus despia a personagem que todos vestiam para olhar o ser humano que cada pessoa é. Ele não enxergava apenas uma adúltera ou prostituta, mas uma mulher carente de amor. Jesus não enxergava apenas um pobre, ou um leproso ou um endemoniado, mas um ser humano carente, doente e oprimido. Jesus não enxergava impressionado apenas o glamour dos cargos políticos nem o status social e religioso dos fariseus, mas ele enxergava um ser humano perdido e morto em seus pecados. Jesus não enxergava apenas um rico, corrupto, cobrador de impostos, traidor e ladrão como Zaqueu, mas enxergava um homem pobre de espírito, com o coração vazio e carente da maior riqueza do mundo, o amor de Deus. Jesus não enxergava apenas o seu inimigo ofendendo, perseguindo e traindo; mas ele enxergava um ser humano doente no caixão do seu egoísmo. Assim, Jesus amou o ser humano despido de sua roupa social, cultural e religiosa. Isso significa que devemos amar o inimigo, porque antes de ser um inimigo, ele é um ser humano. Por isso, podemos amar o inimigo como Jesus amou.

As palavras e a vida de Jesus ecoam nas palavras de Paulo, apóstolo, que diz: “O amor seja sem hipocrisia...Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal,...abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis...se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber, porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer o mal, mas vence o mal com o bem”. (Rm 12: 9a, 15, 20 e 21). 
Assim, podemos concluir que amar não é sentimento, intimidade nem tratamento condicionado à personalidade, mas amar é dar tudo o que somos e tudo o que temos em favor do bem da pessoa amada; mesmo que seja o teu inimigo, mesmo que seja dar aquilo que a pessoa não deseja, mas precise para gerar transformação e vida. 
Lute e vença o mal do ciclo vicioso e ininterrupto da vingança e do ódio com o bem do amor.

Fonte: http://www.ecosdovale.blogspot.com/

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