sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Cantando a Deus


Faz parte do canto a modulação adequada da voz. Pode-se cantar sem habilidade quando, por exemplo, temos uma inclinação a cantar sozinhos para dar expressão aos assuntos que lemos (registrados em forma não-poética), ou àqueles que fluem de um coração piedoso. Isso é feito ao modular a voz entre um tom alto e baixo, no canto vagaroso ou rápido, mas não de uma forma artística, e sim segundo o mover do coração. Um fazendeiro muito piedoso, que eu conheci muito bem, costumava dizer: “Quando estou sozinho na minha plantação, sou capaz de cantar todos os salmos, mesmo que não conheça as suas melodias”. Muitos dos fieis poderão confirmar isso com sua própria experiência. O Senhor deu a algumas pessoas a capacidade de criar peças musicais com arte, que expressão as afeições do coração de uma forma maravilhosa e que mexem com nossas emoções de um modo incrível. Assim como os construtores da arca de Noé não receberam vantagem da estrutura que construíram, visto ter sido feita para Noé e sua família, aqui também nos deparamos com uma situação semelhante. Muitos musicistas se destacam. Contudo, isso é para o benefício dos fiéis. A estes pertence a terra e tudo o que nela se contém. O mesmo se aplica a todas as formas de arte: podem, livremente, fazer uso delas. A forma como alguém é movido pela música será consistente com a natureza de seu coração. Um homem natural só será movido em um sentido natural, ao passo que a melodia mexerá com o coração espiritual em um sentido espiritual.


Diversos homens piedosos compuseram canções espirituais para esse propósito com uma variedade de melodias. Parece que Lutero foi o primeiro a fazê-lo durante a Reforma. Os seus cânticos são ainda hoje cantados com edificação pelos luteranos em suas igrejas, bem como privadamente por nós. E recentemente o inesquecível Justus van Lodesteyn compôs uma coletânea de canções insuperável em termos de espiritualidade. Clement Marot colocou os primeiros cinquenta Salmos de Davi em rima no idioma francês e Teodoro Beza, os outros cem. Depois disso, Claud. Gaudamelius [Claude Goudimel], um músico famoso de Paris (que pereceu como mártir no massacre de Paris), compôs as melodias, que são insuperáveis na opinião dos músicos. Petrus Dathenus os traduziu do francês em forma poética, preservando as mesmas melodias. Seria bom se algum poeta piedoso e habilidoso pudesse tomar para si a tarefa de melhorar as traduções, colocando-as em poesia de uma forma idêntica e em melhor harmonia com o texto original, de modo que o resultado seja aceito para o uso público nas igrejas. A decisão dos Sínodos holandeses foi de fato muito correta, a saber, que nada além dos Salmos de Davi deve ser utilizado nas igrejas.


O autor: Wilhelmus à Brakel (1635-1711), ministro da palavra e sacramentos em Rotterdam, fez muito para contribuir com a “segunda Reforma holandesa”. Sua obra mais conhecida, The Christian’s Reasonable Service, é uma contribuição inquestionavelmente relevante ao desenvolvimento da teologia reformada do pacto.


Fonte: http://neocalvinismo.wordpress.com/

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